sexta-feira, 11 de abril de 2008

Sobre repertório

É curioso como nós, arquitetos contemporâneos, simplesmente não temos repertório suficiente para lidar com alguns elementos. Desde nomes de detalhes construtivos (tímpanos, alguém?) até uma compreensão mais formal do espaço, nos sentimos deslocados.

É impossível aos nossos olhares enxergar o conjunto como um todo, desde os elementos decorativos até as áreas mais funcionais. Nossa visão foi treinada, desde cedo, a aceitar somente aquilo que possui função definida; forma clara e sucinta; "verdade" nos materiais. Nossas mentes, totalmente dominadas pelo método científico e analítico, se pegam tentando compreender a função de uma torre, ou a capacidade de um janela de iluminar um ambiente.

Acredito que nunca conseguiremos compreender o mais puramente simbólico; o nome dos municípios do estado nas amuradas externas nos é estranho, uma afronta, quase! Não haveria outro modo de sugerir em um nível mais abstrato essa referência? E o que dizer então dos elementos gregos e romanos, estátuas de ninfas de deusas representando o triunfo da indústria? E, horror dos horrores, como olhar de maneira destemida a quimera de ferro que sustenta a bandeira do país?

Claro que não há respostas para estas perguntas, pois em primeiro lugar, as perguntas não fazem sentido. Quais são as perguntas corretas então?

Não sei ainda quais são. Mas uma velha pergunta me vem à mente, e já não tenho mais certeza da resposta que aprendi ser a correta:

"O que é mais importante? Um grande edifício residencial ou um palácio burguês?"

Alguns colegas, com um ou dois pés (ou quatro?) ainda em Dessau, não teriam dúvidas: O edifício.

Já não tenho mais certeza.

Primeiro post

Sempre é complicado começar alguma coisa. Mais ainda quando o assunto é algo que já existe há tempos...

Bom, meu nome é Juliano Pita, sou arquiteto e recentemente tenho tido a experiência de trabalhar em um projeto no Palácio das Indústrias, no coração de São Paulo. Este blog não é sobre o projeto em si ou sobre mim; é sobre algumas reflexões que trabalhar neste local, aparentemente deslocado no tempo e no espaço , tem sucitado.

É óbvio que, com exceção da minha esposa e um pequeno grupo de amigos, ninguém lerá essas linhas porcamente escritas. Mas tudo bem, pois o diálogo é muito mais interno do que externo. Espero que, caso algum visitante ocasional tenha a temeridade de me encontrar, minhas reflexões sirvam para alguma coisa...